Thursday, April 20, 2006

Sem pressa de passar

Como se as não tivesse sonhado, dou por mim a negar todas as imagens perdidas nos meus sonhos, a rasurá-las com a violência que só a mágoa profunda permite e, pela primeira vez, sem medo de me perder no tempo sem destino. As lágrimas acumulam-se no interior sanguíneo do meu coração e dirigem-se ao passado onde és figura feliz mas já distante. Ousei questionar porque não me comandava mais o sabor do vento, porque não me dava o céu as asas do mundo e porque é que é profundamente triste o sorriso da subordinação acrítica aos passos alheios. Não ouso mais. As respostas são o tempo. Tempo que corre devagar sempre que é para doer. Com o mesmo tempo, nego-me e a ti por medo, por cobardia, por profunda dor, que se espalha nas entranhas poeirentas do passado, por não saber mais se me quero. Ou a ti. Ou a nós. E hoje as horas passam devagar e inebriam o dia com tons escuros de uma noite que nunca deixou de o ser. E hoje os minutos carregam o meu pesado olhar, como se caminhassem lentos para a morte dos sentidos. E só hoje o tempo me suspira a culpa que não queria carregar, a culpa de ter tido oportunidade de te conhecer diferente… se te não tivesse sonhado demais. Desligo os sentidos do que sou e levito até ao outro lado da vida, na esperança infantil de que na outra margem esteja a solução para desamarrar a minha alma dos nós e laços que o mundo dá e abandono-me, pela primeira vez, sem medo de me perder no tempo sem destino…