Friday, July 27, 2007

Pedaços de ti

Ela diz que ainda ontem sonhou com essa leveza, a que sustenta o teu sorriso cativante, mas não te encontrou. Desvanecem-lhe os traços do teu corpo por entre sonhos confusos feitos de presenças e ausências descontroladas em tempos e espaços indecifráveis.
Ela continua a dizer que é inútil a esperança e que o sonho mais não é do que soma forçada de pedaços de outras vidas que as mãos nunca tiveram coragem de agarrar e de momentos irreais cuja construção só serve para abalar a comodidade da solidão.
Mesmo descrente, parece que te continua a sonhar à noite e que é feliz nessa realidade de personagens e de histórias construídas fora do mundo das pessoas de verdade. Nesse imaginário protegido apareces vagamente descrito como luz intensa numa verdade quase infantil, as tuas mãos são fielmente reproduzidas em imagens de infindável doçura e o esboço do teu olhar é traduzido por palavras apaixonantes onduladas pela química dos sentidos.
Ontem, ela confidenciou-me que te quer rasgar da memória e que não volta a visitar-te. Mas à noite, tu és mais forte do que a resolução imediata de te esquecer e sei que ela voltará a encontrar no sonho que protagonizas a felicidade que existe na magia do desconhecido.

Wednesday, July 25, 2007

Efémero eterno

Quero tanto que a recordação de ti se eternize nas imagens que em mim guardo que quase tenho medo de continuar a viver.
Há momentos de uma perfeição poética, quase tão exagerada como a estrutura da ilusão, que nos sufocam o respirar e nos transportam para um estádio julgado inatingível de felicidade. Acrescentar-lhes novos dias, sons posteriores, ou influências externas, implica estrangular, com a repetição aperfeiçoada do recordar, o que o passado nos permitiu viver e desfocar a imagem do que já foi real.
Quero tanto recordar-te indefinidamente que quase sinto a coragem para congelar o meu coração e a parte do cérebro que imprime as fotografias do teu rosto e penso se não seria solução viável parar o decurso do meu próprio tempo, doá-lo ao nós que nunca vai existir e permitir que tu sejas a eternidade possível.
Hoje invade-me este medo de pisar o terreno estranho dos dias que ainda hão-de vir mas, enquanto a cobardia desse sentimento me impedir o abandono deste palco, vou continuar a legendar o passado com as imagens que de ti os meus olhos souberam construir, procurando agarrar este prazer que é o de conseguir eternizar a efemeridade.

Friday, July 13, 2007

Quero lá estar...

Eu quero estar quando a força te abandonar. Quero arrancar o pesadelo do teu olhar ausente, num abraço apertado e ficar contigo para o sempre que está por perto quando o início do caminho se anuncia.
Por isso fica.
Bem sei que o tempo se desvanece enquanto as palavras encontram os limites da sua finitude e que o sorriso também pode morrer.
Mas fica só hoje.
Preciso de estar quando o fim nos desligar do passado, que se eternizará em memórias do presente e do futuro, porque me assusta essa quantidade absurda de fragilidades que acumulas no peito e que te dificultam o respirar. É só por isso que preciso que queiras que eu fique.
Fica só hoje. É que hoje é o último dia...