Wednesday, July 25, 2007

Efémero eterno

Quero tanto que a recordação de ti se eternize nas imagens que em mim guardo que quase tenho medo de continuar a viver.
Há momentos de uma perfeição poética, quase tão exagerada como a estrutura da ilusão, que nos sufocam o respirar e nos transportam para um estádio julgado inatingível de felicidade. Acrescentar-lhes novos dias, sons posteriores, ou influências externas, implica estrangular, com a repetição aperfeiçoada do recordar, o que o passado nos permitiu viver e desfocar a imagem do que já foi real.
Quero tanto recordar-te indefinidamente que quase sinto a coragem para congelar o meu coração e a parte do cérebro que imprime as fotografias do teu rosto e penso se não seria solução viável parar o decurso do meu próprio tempo, doá-lo ao nós que nunca vai existir e permitir que tu sejas a eternidade possível.
Hoje invade-me este medo de pisar o terreno estranho dos dias que ainda hão-de vir mas, enquanto a cobardia desse sentimento me impedir o abandono deste palco, vou continuar a legendar o passado com as imagens que de ti os meus olhos souberam construir, procurando agarrar este prazer que é o de conseguir eternizar a efemeridade.

2 comments:

Anonymous said...

(é quase um pecado acrescentar alguma coisa a esta sua expressão... mas a vontade, sendo forte, impede-me de o deixar imaculado: é absolutamente lindo (!) O sentimento... e a sua representação)

Anonymous said...

É incrível a forma como me revejo nestas palavras...