Wednesday, August 23, 2006

Nunca te perdi

Hoje, doem-me a saudade e a morte lenta dos sentidos que a ausência traz.
Senti-te flutuar junto do meu espaço momentos antes de acordar. Sabia que se abrisse os meus olhos a vibração do teu sorriso se esfumaria na pressa do tempo real. Por isso, mantive-me estática, com os olhos afogados na almofada. Só a sentir-te. Sorrias pacientemente, com olhos doces de saudade, enquanto me afagavas o cabelo com a paixão de outrora. Sopraste-me um beijo de despedida ao ouvido, com palavras de vida. E deixaste-me inerte, ainda de olhos cerrados, com um arrepio permanente que ainda percorre todos os nervos do meu corpo e me impede de te deixar de pensar.
Trago-te em mim em cada lágrima que cai vagarosa na tua voz escrita nas linhas do passado, sinto-te no silêncio que tanto quero agarrar em mim, és a luz que me desperta para a vida e por trás dos meus olhos é a tua imagem que me alimenta a força de ser forte.
Hoje revisitei todos os teus lugares, os sorrisos, os abraços, toda a ternura e cumplicidade construídas nos laços que a vida nos dá. As cores da tua presença preenchem a dor que hoje é profunda e apaziguam este choro ferido de te saber longe.
Amanhã, mesmo antes de acordar, vou embrulhar-me quieta nos lençóis, à tua espera. E depois. E em todos os dias da minha vida…

Thursday, August 17, 2006

Não consigo sentir a tua falta.
És imagem morta nos registos da minha memória e mesmo assim, desfalecida, cansas-me. Só a ideia da tua presença ou o som ficcionado da tua voz fatigam-me.
Não queria que fosse assim. Mas no meu mundo construído de verdade não cabem as chantagens tenebrosas que ainda tens coragem de insinuar, nem os teus delírios insanos, angústias dramáticas que alimentas com lágrimas e sangue alheio.
Conseguisses tu sentir a tranquilidade daquilo que é autêntico e perceberias que aquilo que sentes em relação aos outros mais não é do que uma pobre projecção do vazio que em ti vive.
Sujas as crenças dos que desiludes, sugas tudo aquilo que é cor e verdade, disfarças sorrisos e lágrimas, esfaqueias o coração de quem por ti passa e esperas sair impune apenas com uma trémula aparição em realidades que não te pertencem. Desta vez, porém, apesar de a tua loucura ser credível, não vai ser assim. Não respondo com a frieza, porque não sei sê-lo, nem te dou o rancor, porque ele em mim não habita. Só te posso oferecer ajuda, ainda que no silêncio da minha inacção, mesmo que já a tenhas rejeitado, no único minuto em que ousei defender a tua existência.
Sabes? A resposta é o amor. O amor. E só o deve jurar quem o sabe cumprir.

Wednesday, August 16, 2006

Só existe aquele momento...

"Existe sempre no mundo uma pessoa que espera a outra, seja no meio de um deserto ou no meio das grandes cidades. E quando essas pessoas se cruzam e os seus olhos se encontram, todo o passado e todo o futuro perdem qualquer importância, e só existe aquele momento e aquela certeza incrível de que todas as coisas debaixo do Sol foram escritas pela mesma Mão. A Mão que desperta o Amor, e que fez uma alma gémea para cada pessoa, que trabalha, descansa e busca tesouros debaixo do Sol. Porque sem isto não haveria qualquer sentido para os sonhos da raça humana."

O Alquimista

Wednesday, August 09, 2006

“Eu nunca durmo, com a ferida do meu próprio sono”
Herberto Helder

Não sei pedir ajuda. Páginas e páginas em branco, silêncios que se instalam, portas que fecho sem olhar para trás. Que raiva que sinto deste embotamento, desta incapacidade total de ser directa no precisar. Não me quero assim. Quero explodir por dentro e queria que isso fosse redentor. E queria aprender a redenção e fixá-la para sempre...