Thursday, August 17, 2006

Não consigo sentir a tua falta.
És imagem morta nos registos da minha memória e mesmo assim, desfalecida, cansas-me. Só a ideia da tua presença ou o som ficcionado da tua voz fatigam-me.
Não queria que fosse assim. Mas no meu mundo construído de verdade não cabem as chantagens tenebrosas que ainda tens coragem de insinuar, nem os teus delírios insanos, angústias dramáticas que alimentas com lágrimas e sangue alheio.
Conseguisses tu sentir a tranquilidade daquilo que é autêntico e perceberias que aquilo que sentes em relação aos outros mais não é do que uma pobre projecção do vazio que em ti vive.
Sujas as crenças dos que desiludes, sugas tudo aquilo que é cor e verdade, disfarças sorrisos e lágrimas, esfaqueias o coração de quem por ti passa e esperas sair impune apenas com uma trémula aparição em realidades que não te pertencem. Desta vez, porém, apesar de a tua loucura ser credível, não vai ser assim. Não respondo com a frieza, porque não sei sê-lo, nem te dou o rancor, porque ele em mim não habita. Só te posso oferecer ajuda, ainda que no silêncio da minha inacção, mesmo que já a tenhas rejeitado, no único minuto em que ousei defender a tua existência.
Sabes? A resposta é o amor. O amor. E só o deve jurar quem o sabe cumprir.

3 comments:

Anonymous said...

Amar é Dar. Sem "mas", sem "só se...". É incondicional. Por isso absolutamente verdadeiro e puro. Por isso acredito. Acredito na cedência da entrega. Ainda bem que o rancor já não habita em ti, Fénix renovada. ;)

Joana said...

O texto fala do amor enquanto resposta para tudo na vida. Mas responder com amor não significa sempre "amar incondicionalmente". Muitas vezes implica a distância, a percepção de que o caminho é outro e não aquele, implica o reconhecer de que a frieza, a pura maldade, a mentira não fazem parte e que é melhor apagá-las do nosso mundo. Responder com amor é sobretudo ser amor, enquanto pedagogia necessária para a alma.
Beijinhos!
J.

Noggy said...

Este texto, por momentos, quase me faz acreditar que leste uma dada realidade : a minha.
Embora não nos conhecamos, não posso deixar algumas palavras.
Quando dizes
"(...)e sentes em relação aos outros mais não é do que uma pobre projecção do vazio que em ti vive. (...)"
Não me parece de todo justo que julgues da maneira mais fria o que pensas que uma pessoa sente em relacao a outra e porque o faz.
Ainda há amor à solta por aí sabes?
Cada pessoa ama o outro a sua maneira e pode fazê-lo por vários motivos...ou por motivo nenhum e mesmo assim ser genuino a um sentimento.
Eu amei uma mulher, que nunca acreditou que a pudesse amar, so porque nao compreendia porque eu o fazia.Também ela preferiu a segurança da solidão, ao risco do amor :(