Saturday, November 19, 2005

À medida que ias falando percebi o muro que nos impedia a comunicação, no marasmo de palavras incongruentes que ias soltando inexpressivamente. Quase preferi o teu silêncio de outrora, sempre era mais reconfortante do que essas linhas nervosas que debitavas para me fazer acreditar na tua feliz decadência. Seguia atrás de ti, subi mais escadas escabrosas e dei de caras com outra sala, mais pequena, suada, cinzenta nos modos, a sala onde adormecias todas as noites com sonhos vazios para o destino. Estendeste o teu saco cama e colocaste a minha mochila ao lado. Ao fundo, ainda dormiam dois rapazes, parasitas do dia, frouxamente agarrados a garrafas de cerveja deixadas a meio, escorregadas no chão incolor. Aquela sala tinha duas janelas que davam para a parte de trás de outro prédio, pelo que a luz do sol só a muito custo conseguia espreguiçar aqueles corpos lânguidos e desmaiados da vida. Percebi a monotonia e o vazio mas quis acreditar que eram fruto do meu pessimismo e da minha incerteza. Continuavas a falar e eu já nem te ouvia. Não queria saber se estavas feliz, só sentir o teu denso silêncio para que o meu coração pudesse novamente bater ao teu ritmo numa sensação baça de felicidade. Alcancei-te a mão e pedi-te a paz que já não conheces. Caí no chão em pranto dorido por perceber de repente que já não é tua a mão capaz de me sacudir do vicioso e doloroso veneno da morte.

Thursday, November 10, 2005

É no escuro que me encontro quando de ti me lembro, do teu olhar vazio e faminto de dor. Pareces sombra feliz, vives no ermo chamado angústia, atormentas a pureza do meu espaço e ameaças a inevitabilidade da minha fraqueza. Este latejo cadenciado de nervos sonoros espezinha o meu corpo rastejante no chão frio desta casa de que não lhe conheço a cor, é nascente destas lágrimas que não sinto, mas que me matam a alma e impõe-me a estagnação no caminho. Medo. De mim, do pulsar descoordenado no coração dirigido a ti. De ti, da tua ausência agora irreconhecível e extraviada do horizonte de um abraço. De nós, do abandono das defesas que nos protegem e dos muros que o silêncio ergue. Medo. Da consciência de perder a cor do tempo e dos sorrisos e da transparência e da verdade. Afasto-te do meu mundo, afunilo a tua imagem, a tua existência, no esgoto moribundo da desgraça e espero apenas. Estática espero ouvir a voz que me abandona, aquela que se silencia sempre que és presente. E escuto. E sigo para o caminho que o meu coração indica. E é para longe de ti.

Wednesday, November 09, 2005

O amor. Sempre o amor. A vida. Chegar a um ponto e perceber que não se está sozinho neste lugar. Encontrar alguém que chegou ao mesmo tempo. O início. O momento crucial da decisão de se ser feliz. O amor. Sempre o amor. Tu. A minha vida, o sangue que movimenta o meu corpo, flutua no meu coração e volta sempre a ti. Regresso a ti a cada início de manhã, em cada fusão dos nossos corpos e sou tua. Só sei ser tua. És o fim da minha ausência, a felicidade que nunca esperei, a paz que me entorpece os sentidos e que extasia o meu ânimo. És. E fazes-me feliz sempre que estás perto, nas horas em que me abraças no perdão concedido, em todos os momentos em que me obrigas a dar mais sem muros de medo à volta. O amor. Sempre o amor. A restituir-me a força de que preciso para lutar por nós, numa paixão desenfreada, esgotante, gratificante. A fazer-te destino dos meus passos sem outros obstáculos ou prioridades. A cada dia que passa sinto-me mais perto. E avanço cada vez mais para receber daquilo que aumenta o coração. E sou tua. Só sei ser tua. Neste amor… sempre neste amor...