Thursday, October 27, 2005

Saudade...

Saudade tem todos os sabores da comida da minha mãe, do cheiro perfumado da sua meiguice, tem as cores de todos os sítios onde vi o pôr do sol, saudade tem o rosto do meu irmão, desde que ele mal abria ainda os olhos.
Que saudades do silêncio de casa, do vento morno das praias a fazer rodopiar os meus cabelos, dos papagaios de papel esvoaçantes conduzidos pelas mãos fortes do meu pai. Saudade dos cânticos de Natal a entoar pela casa cheia de vida e das batatas doces a sair do forno pela mão da minha avó.
Tenho saudades de correr para tudo, de ser criança, protegida do mundo, de amar inocentemente sem limites e de me deixar amar dessa mesma forma.
Saudade é sobretudo palavra de amor, de paixão, a palavra que une todos os pedaços de mim, de tudo o que jamais poderei esquecer, a palavra que me resgata do meu próprio corpo e derrama sobre mim a sua melancolia forte. E é por isso que este meu corpo é tantas vezes, como hoje, invólucro estranho e vazio de mim…

Friday, October 07, 2005

Porque a vida só vale por todas as pessoas que amamos

Declino o sono e avanço pela noite fria, sentindo-te tremer a meu lado na insónia estreita por onde passam eternidades vestidas de negro.
Doem-me os teus olhos cansados e perdidos entre o tudo e o nada, pólos equidistantes e recorrentes nos teus dias. Dói-me esse brilho de lágrimas contidas à força no teu espírito e esse peso soturno no teu coração. A sangrar apenas quero ser força no teu caminho, ser, sem saber quem. A luz inocente do teu ânimo. Doem-me os teus passos arrastados e fechados que olham para trás a cada movimento deturpado de determinação. Dar-te-ia se pudesse a paz de não te doer e ficaria em troca com o teu inferno. Para sempre.