Thursday, October 27, 2005

Saudade...

Saudade tem todos os sabores da comida da minha mãe, do cheiro perfumado da sua meiguice, tem as cores de todos os sítios onde vi o pôr do sol, saudade tem o rosto do meu irmão, desde que ele mal abria ainda os olhos.
Que saudades do silêncio de casa, do vento morno das praias a fazer rodopiar os meus cabelos, dos papagaios de papel esvoaçantes conduzidos pelas mãos fortes do meu pai. Saudade dos cânticos de Natal a entoar pela casa cheia de vida e das batatas doces a sair do forno pela mão da minha avó.
Tenho saudades de correr para tudo, de ser criança, protegida do mundo, de amar inocentemente sem limites e de me deixar amar dessa mesma forma.
Saudade é sobretudo palavra de amor, de paixão, a palavra que une todos os pedaços de mim, de tudo o que jamais poderei esquecer, a palavra que me resgata do meu próprio corpo e derrama sobre mim a sua melancolia forte. E é por isso que este meu corpo é tantas vezes, como hoje, invólucro estranho e vazio de mim…

1 comment:

Anonymous said...

Sou tentado a discordar. A Saudade, ao invés de esvaziar, preenche o meu corpo. Fá-lo criar necessidades, situações, desejos e emoções já vividas, que por vezes de tão reais, se tornam palpáveis. A saudade faz querer viver mais, e repetir o bom. Daí que preencha. Embora compreenda que possa dar a sensação de vazio, o compêndio da saudade ajuda a materializar desejos futuros...