Monday, May 23, 2005

«And so it is
just like you said it would be...»

Aquela música reinventa o meu tempo, subverte a desconexão do meu pensar e permite que tudo em mim se misture, de modo intenso e envolvente, nas entrelinhas tépidas deste trilho sonoro. No horizonte de prédios há luzes que se acendem. Luzes que me entorpecem a retina que brinca a conta-gotas com a imagem do teu rosto. Tudo porque hoje senti um certo olhar de tristeza na tua voz. Notei um qualquer ponto perdido instalado no teu sentir, uma ausência cansada de cor. Tento fazer com que as horas corram a nosso favor. Revivo os sorrisos de saudade, mas invariavelmente tropeço sem cair na galáxia indefinida dessa dor real que hoje te veste. Quantas linhas tem o meu texto que reflectir, quantas palavras, para que eu consiga colorir o teu olhar? Quanto tempo tenho de desacelerar para conseguir ir hoje ao teu encontro e relembrar-te que o nosso mundo invade as regras adquiridas numa transcendência perfeita? Sem consulta prévia à razão, o meu coração rasga-se violentamente ao meio. Parte de mim sai de dentro, dos lados e voa sonâmbula ao encontro da tua noite. Ao sabor de um vento suave, metade do meu coração tenta desenhar formas engraçadas nas nuvens dos teus sonhos. Brinco com a possibilidade infinita de provocar a tua alegria e olho-te intensamente como se o fizesse pela primeira vez. E nas longas horas curtas que me restam até ao nascer do sol, obrigo a tua mão a recolher-se na minha, arranco-te do silêncio e levo-te mais uma vez comigo num passeio cúmplice pela vida...

Friday, May 20, 2005

Congelo o relógio e parto para longe de mim. Por instantes cheios de um horizonte interno, vislumbro no céu uma noite pueril anterior a qualquer madrugada. Pensamentos em convulsão. Palavras cortantes atravessam a minha alma e voam com ela para um outro lugar, mais distante e profundo. E ao mesmo tempo em que desvanecem os contornos externos do meu corpo e em que o desespero estremece agarrado a mim testemunho uma forte sensação de ausência. E nesse caminho em que provo a carência de mim mesma, sinto aproximar a saudade que me oprime. Quero ser escritora dos meus dias, fazer nascer parágrafos longos, capítulos de eternidade. Certamente serias personagem principal de tantos textos impregnados do teu sorriso, da tua ternura a atravessar o meu corpo, do teu toque que queima a minha pele, da tua verdade... E passas a estar presente. Ao som da tua melodia doce consigo mergulhar numa profundidade única de emoções e não consigo escrever senão num jeito forte e apressado, nessa escrita onde apareces como contrastante brisa suave. As minhas mãos transpiram estilhaçadas pela certeza de que não te consigo descrever devido ao limitado universo das letras. E no segundo em que me resigno a esta incapacidade, apenas quero olhar-te mais uma vez, sentir tudo, fugir e ser plena...