Friday, June 17, 2005

Recomeço...

Uma indiferença marcante naquele olhar que se distancia calmamente no horizonte faz com que a sua audição rapidamente abandone a cacofonia de vozes desordenadas que vão gesticulando no meio da discussão ávidas de entendimento sobre a inevitabilidade que já se adivinhava. No momento em que os olhares se encontram, o tempo perde a rigidez e um só gesto, devoto, é suficiente para que aquela indiferença se desmascare. Saem os dois pela porta parcialmente aberta que lhes ditou por instantes a claustrofobia e procuram um espaço purificado. A pétrea passagem do tempo impõe o limite de uma hora para dizerem tudo o que nunca antes ousaram. O seu rosto pálido, diáfano, tem a forma de uma lágrima gigante que percorre velozmente os vales do passado e os caminhos do presente. Aí desagua uniformemente num buraco escuro, desconhecido, onde a dor é pincelada com cores celestes e onde o outro não reside senão em breves imagens de saudade. Por seu lado, ela não tem forças. Não controla a entropia do seu pulsar cardíaco. Permanece muda, numa morte lenta de movimentos. Quer inverter os papéis, mudar o rumo da história e apagar todo o sofrimento que os abraça numa melodia abusivamente forte e cruel. Por instantes, saboreiam ambos a leve brisa que lhe concede a fértil ideia da eternidade e que acalma o pranto desesperado que lhes desfigura a serenidade do amor partilhado. Percebem nesse instante que o tempo e o espaço são medidas finitas de existência que não colidem com a infinidade do sentir humano. E as palavras começaram a atropelar-se, a traduzir a espiritual verdade que sempre os unira e a construir, ali, naquele instante, um transcendente futuro, uma vida para além dos limites circunstancialmente impostos, um sentir que se eleva grandioso ao altar da eterna devoção. Envolto em magia e encanto é proferido um “Amo-te” simultâneo que tem a capacidade de absorver o passado, o presente e a dor de ter que morrer mesmo sem chegar ao fim…

2 comments:

Anonymous said...

Parabéns pelo teu blog! Muita autenticidade :) (tens aqui uma leitora assídua)

Anonymous said...

(Continua a não dar para comentar nos posts novos...Tens de dar aí uma volta nas opções outra vez =) Mais uma vez, tens aqui uns textos muito interessantes...Um beijinho, com saudades!!)