Thursday, May 25, 2006

Adeus

De olhar triste e profundo, caminhas sem caminho traçado, num trapézio de infinitas sensações, por entre ruas escuras e labirintos de morte. Teus olhos são máscaras de sangue e de lama, revestem-se de uma dureza inigualável e escondem lágrimas de fraqueza e solidão. Sorris. No entanto, sorris. Talvez na tentativa de o fazeres real em ti. Talvez por não saberes que chorar é a melhor forma de limpar a alma da amargura alojada por frustrações repetidas e por sonhos que jamais vestirão a tez do mundo real. Talvez por não saberes que um sorriso vazio te denuncia mais facilmente do que uma lágrima cheia de ti. Caminhas na minha direcção, com mãos descontraídas nos bolsos do casaco, andar infantil e propositadamente arrastado. Interpreto-te à medida que a tua sombra se solidifica no campo da minha visão. E vejo um menino que se julga homem, naturalmente selvagem, sem rumo ou direcção, porque a vida é madrasta e o coração solteiro. Oiço o teu grito ferido, o teu pedido de ajuda fortíssimo, mas, simultaneamente, vejo os traços da tua desistência forçada porque não queres saber ser diferente. Alcanças o meu espaço. Olá. Dizes-me em tom forte, que denuncia o teu total constrangimento. Passas a mão nervosa pelo cabelo negro. Respondes-me sem me dar tempo para te perguntar. Não sei o que faço aqui, mas é aqui que quero continuar. Por isso, é melhor saíres. É o meu território. É a minha vida. É o meu momento. Este não é sítio para ti. Metralhas-me estas frases com olhar afastado de mim e empurras a minha presença para longe. Queres-me ausente. Só assim consegues justificar o fardo da dor. Com a ausência dos outros que teimosamente afastas de ti. Continuo estática sem saber o que dizer. Mas nem por isso me abandono ao teu querer irresponsável de tão corrompido. Não preciso de sair. És tu quem me abandona naquela ruela escura, com imagens de morte pintadas nas fachadas dos prédios irreconhecíveis de tão degradados. Vejo-te desaparecer na penumbra da solidão que escolhes para os teus passos e quase acredito que a tua liberdade é ilimitada. Quase acredito que podes ser feliz…

3 comments:

Anonymous said...

Para quando será a tristeza aqui encarcerada afastada pela alegria que vibra dentro da ti?

Como afirma Jack Welch: O problema dos Portugueses é complicar o que é simples! Fica o meu desejo

Joana said...

E para quando o momento em que deixas a profundidade marcar o ritmo das tuas coisas simples? Não é necessariamente complicado viver com uma perspectiva mais íntima do real. Não é necessariamente triste escrever a pensar nos tudos e nadas que nos confortam ou desconfortam a alma...

Fica o meu desejo: abre o teu coração e verás que a simplicidade é menos um sorriso do que uma reflexão profunda acerca dos motivos da felicidade...

Luis said...

Olá Joana, muito obrigado pela visita ao meu espaço e pelos comentários. O que tinhas deixando antes não respondi porque não tinhas o teu profile aberto ao publico...
Gostei do que li no teu espaço, embora não tenho lido tudo, percebo melhor o que disseste das duas vezes que me visitaste.

Mesmo afastado da blogosfera não queria deixar de te agradecer a visita.