Thursday, October 19, 2006

"Ao mergulhar, o mar entrou-lhe de roldão no pensamento e deslocou-lhe os sentimentos para uma zona de tal modo abstracta e afastada de qualquer tipo de emoção, que por momentos deu duas ou três braçadas num plano de si mesmo a que jamais tivera acesso e que, por muito pouco democrático desígnio da natureza, lhe pareceu que até então estivera reservado a deus. Fruto de alguns segundos, que cada poro do seu corpo registou de maneira diferente, acrescentando-lhe ao que acima se descreve uma sensação de elasticidade cronológica de que se lhe afiguraram pouco dignos os seus órgãos, esta experiência foi interrompida por um regresso à superfície que lhe devolveu a presença do areal e dos rochedos a que naquele instante a aragem insuflava uma realidade disjuntiva."
Luís Miguel Nava in O CÉU SOB AS ENTRANHAS (1989)

É como me sinto hoje, inundada de mar…

1 comment:

Anonymous said...

Gostei muito! Sem o ser, é teu. Bacci.