Friday, October 08, 2004

De repente quebra-se o silêncio e a espera desfaz-se pequenina por entre o oceano de horas cujo tic-tac não é mais ouvido. Nesse momento, a falta de oxigénio impõe uma inspiração prolongada, uma expiração consciente e um passo em frente...
É nesse passo, o que nos custa mais, que se depositam as mais fortes esperanças. No fundo, o Hoje mais não é do que uma ponte quebradiça entre o ontem e o amanhã. E é em função desse amanhã desconhecido que nos é exigida uma constância de movimentos. E é em função de um relógio que não sabemos parar que nos perdemos do Mundo sem saber o caminho de regresso.
A vida muda, traz-nos verdades, deteora as mentiras e faz de nós seres mais fortes mesmo sem o sabermos, mesmo que nos pensemos fracos e sem sorte. E é justamente num único passo que manifestamos a vontade e a força. Para tanto basta apenas que quebremos a cadeira sedentária a que, tão confortavelmente, nos sujeitamos, e que, num gesto de revolta e indignação, saibamos soltar a negação profunda de tão triste destino. Estou a um passo desse passo magnifíco que dignifico tanto quanto temo. Encontro-me agora neste túnel silencioso em que ginastico os meus músculos atrofiados e me preparo para passar para lá desta linha que me tem separado de mim e dos outros. Não levarei o passado, excepto os sorrisos que por lá fui deixando. Mais do que tudo, amarei o presente mais do que pensarei o futuro...

Joana Salvador




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