Wednesday, December 10, 2003

De que é feito o Amor? De que cores, de que sons, de que palavras?
Poderia, recorrendo aos malabarismos infinitos que a escrita nos permite, tentar definir este excelso sentimento que não se vê, mas que se sente... poderia tentar fazê-lo, mas todas as definições pecariam sempre por demasiado redutoras, artificiais demais para traduzir a simplicidade genuína de um sentimento que não se escreve...
Imperdoavelmente, esquecemo-nos dele demasiadadas vezes. Aprendemos a desobedecê-lo nos dias selváticos que nos consomem. Molestamos o nosso coração, tornando-nos masoquistas idiotas de um egoísmo que não sabemos controlar... Lamentavelmente subestimamos a veracidade e a força deste sentimento que só nos melhora. Vendemo-nos a uma racionalidade sem limites porque jamais podemos correr o risco de sofrer e de admitir a fraqueza que nos é inerente.
Tristemente, apaixonamo-nos pela solidão, pelo seu silêncio ensurdecedor e pela sensação de liberdade que ela nos permite viver. Esquecemo-nos, contudo, que, devagar, essa sensação de vazio enfraquece os nossos sentidos e transforma o nosso olhar num recipiente aglutinador de amargas angústias.
Costumo dizer que quem escolhe a solidão, escolhe-a sem saber que não há mais nada a seguir... E não há mesmo... Sobram apenas rasgos inúteis de um egoísmo arrogante que julga poder alimentar-se de si próprio. E com isto perdemos a capacidade de nos darmos, de saírmos do nosso mundo mesquinho e desinteressante, perdemos muito... E ganhamos apenas uma inimiga íntima para a vida toda: a solidão, alimentada pelo constante silêncio e pelo vazio...
Perguntava-me de que é feito o Amor? Náo tenho dúvidas de que é feito das mais belas cores que traduzem o tempo, a espera e a proximidade. Acompanham-no os sons melodiosos da tolerância e da doçura e as palavras nuas de paixão e, sobretudo, de verdade... O Amor é feito de tudo isto. A incondicionalidade a que este sentimento nos remete é a chave que faz de nós humanos, especiais e diferentes de todos os outros seres. Renunciá-lo é querer viver na ignorância de que já se morreu...

1 comment:

Renato Martins said...

A solidão é muitas vezes a via mais confortavel, sem desafios, sem abismos, a vida torna-se segura, embora com o tempo bem monotona. quanto ao amor: primeiro é preciso ver a outra margem e depois criar uma ponte