Sunday, December 07, 2003

Nós somos a nossa maior armadilha. É tão fácil deslizarmos na força suave dos nossos sonhos e ilusões, alimentarmo-nos deles como se fossem a nossa vida real, é tão fácil adormecermos ao som da melodia inebriante das histórias por nós criadas. Há, contudo, uma inevitabilidade incontornável. Infelizmente, muitas das ilusões acabam por se perder no caminho amargo dos dias e damos por nós presos a uma realidade nervosa que nos amarra e que nos prende a um tempo e espaço determinados, que nos condena impiedosamente a silogismos objectivos e perfeitos. Acabamos por entristecer o nosso olhar, que se habitua a vaguear perdido por entre o nevoeiro denso e estático do mundo real. Um olhar que absorve as desilusões de tantos sonhos que ficam sempre por concretizar. Mas talvez seja por isso que nos seja concedida a capacidade de sonhar... a capacidade de nos elevarmos a uma realidade que não temos mas a qual adoraríamos abraçar. Talvez somente para isso mesmo. Para nos elevarmos sem nunca no entanto levantar os pés do chão...
Acho que todos nós tentamos traçar as linhas mais ou menos uniformes da nossa mão de acordo com os nossos desejos e ambições mais profundas. Acabamos sempre por desistir. Desistimos somente por perceber que jamais poderemos contrariar a força imponente do que é real e palpável. Desistimos por perceber que desse modo construímos uma armadilha irremediável no sentido da tristeza e da desilusão, isto porque as construções hábeis que ousámos um dia erguer acabarão muitas vezes demolidas de tão fantásticas e irreais.
Por isso, vamos perdendo a capacidade de sonhar à medida que o tempo passa por nós e nos consome os dias, meses e anos que precisaríamos para concretizar tanta coisa... Por isso, vamos aprendendo a escapar, qual raposa matreira, daquilo que nos pode manter realmente vivos, daquilo que nos concede sentido para a nossa existência.
E quantas vezes já fechamos, no baú bafiento do passado, ilusões que julgamos desmedidas? E quantas vezes já preferimos o solo firme do mundo real ao terreno movediço dos sonhos?

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