Tuesday, November 23, 2004

Eterno voar

Paris... nunca lá estive, mas sei que te reencontrei lá na passada noite, no meio de uma neblina intensa, onde se entrelaçaram nossos mundos numa natural perfeição. Eras tu... Reconheci-te mal te vi aproximar num jeito demorado, estendendo-me a mão com a meiguice única de um olhar que se não escreve. Na penumbra da noite, vi-te chegar com a saudade que nos envolve, uma saudade que aprendi a esquecer mas que reaprendo sempre que te sinto perto. E é inevitável que o nosso olhar se prenda, que o nosso corpo se toque e que os nossos lábios se unam ao som da melodia que nos acompanha desde a noite mágica em que nos conhecemos. Na atracção movediça que nos faz voar de noite ao encontro um do outro, a distância perde o sentido e inexiste perante este sentir que é nosso. Vi-te chegar e abracei os teus braços como quem abraça o mundo, num desespero feliz de quem sabe que os minutos acabam sempre por passar depressa demais. No terminal da nossa viagem, basta o silêncio e um mero olhar para tudo ficar escrito em nós. Aproximei-me e segredei uma lágrima de tristeza por te saber tão efémero em mim. E nessa ondulação vibrante em que nos sentimos mais uma vez, vamos-nos perdendo em nós, acariciando a pele suave dos corpos que se autonomizaram dos sentidos e que voam eternamente por entre a paralisia intensa do tempo. Não houve despedidas... nunca as há quando existe uma verdade indestrutível e imaterial...


Joana Salvador

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