Monday, November 15, 2004

É a mim que o fazes...

Sempre que distribuis um sorriso, um olhar meigo, uma atenção especial a um ninguém desconhecido, é a mim que esse sorriso ou esse olhar chegam com reconfortante aconchego. Sempre que choras numa tristeza sem igual, num silêncio doloroso, são as minhas lágrimas que te sulcam os traços irregulares do rosto. E nesse caminho solitário que percorro a teu lado, quase não dás pela minha presença, ignoras a minha sinceridade e o meu sentimento, foges do meu mundo e esqueces-te que não há outro onde possas habitar feliz.
É a mim que magoas quando te calas para sempre, é a minha alma que se dilacera de cada vez que viras as costas e partes para um caminho diferente. Em cada passo divergente há uma espada afiada que trespassa meu corpo e que corta cada pedacinho vivo de mim.
Nessa escuridão e distância em que mora o teu olhar, soubeste pintar uma rejeição que ainda não compreendo. Soubeste escolher o pior caminho, aquele cujos obstáculos seriam todos suportados por mim, aquele em que as minhas lágrimas valeriam por dois rostos tristes... Escolheste-o deliberadamente só porque sim, porque tinhas de fazer sofrer alguém. Por cada olhar que se entristecia a teu lado, era aumentada a minha dor. Por cada momento feliz, o meu sorriso triplicava de emoção.
E hoje, desconheço-te o amor, a verdade e a entrega. Tudo aquilo que quis acreditar como fazendo parte do teu mundo. Por isso, esperei, corri e tropecei num choro aflito. Por isso, fui enganando minha razão e meu desespero. E hoje, continuas sem conhecer o amor, a essência da verdade e a felicidade de uma entrega altruísta.
Mesmo assim, caminho invisível a teu lado, num desejo constante de que oiças as minhas palavras e mudes o rumo do teu destino. Estou a teu lado, mesmo que não sintas a minha presença e continuo a partilhar a tristeza e o sorriso, como se eu fosse apenas o "tu" que sempre quis converter...

«Tudo o que fizeres ao mais pequeno dos teus irmãos, é a mim que o fazes...»


Joana Salvador

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