Tuesday, November 02, 2004

Roedores de Alma


«Evita as pessoas agressivas, porque elas desgastam o espírito...»


Nunca vos aconteceu esbarrarem, num qualquer momento da vossa vida, com um roedor de alma? Uma daquelas pessoas que vos suga as forças com um sorriso nos lábios, que, num abraço ternurento, vos deita na linha abaixo do chão e que com mentira disfarçada de uma qualquer verdade aparece intermitente nas vossas vidas?...
É de um vil lobo vestido com uma pele de cordeiro de que vos falo. E são tantos os lobos que por aí deambulam, quais abutres famintos de morte. Muitas vezes, dou por mim a tentar converter um ou outro para a essencialidade da vida, para o que é realmente importante, o alimento do espírito, recebendo em troca uma frieza afiada que trespassa a pele, depois todo o corpo. Até parece que sinto os seus dentes ávidos a desfazer um ponto qualquer da linha que nos protege a alma, lugar sagrado do «eu» mais profundo. E não contentes, rasgam todos os outros pontos até que a própria linha se esquece dos contornos que era suposto proteger... E nesse momento, somos despidos de corpo e de alma e somos as vítimas ideais para o crime perfeito.
Damos por nós, uns bons milhares de horas depois, derrotados por um silêncio avassalador num buraco mais frio que o próprio vazio. E só depois de não restar um qualquer pedacinho vivo de alma é que nos conseguimos levantar, meio cambaleantes, e dar uns passos em frente. Pequeninos, porque a cicatriz permanece e a dor não se cala.
Infelizmente, acabamos por nos habituar a este existir selvagem, tanto que às vezes transformamo-nós, nós próprios, em verdadeiros roedores de outras almas...


Joana Salvador

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