Thursday, November 25, 2004

Tenho as mãos trémulas de tanto escrever, numa escrita apressada onde as palavras se atropelam, onde o tudo que se quer dizer se disfarça por entre vírgulas e parágrafos mais ou menos previsíveis. Na ansiedade desenfreada de conseguir desenhar castelos de papel em sonhos infinitos, esqueço o rumo dos sentidos e perco-me na irracionalidade medíocre de quem desconhece o rasto da verdade. É essa verdade que procuro, que escondo de propósito e que arremesso contra o muro que me separa do mundo que queria alcançar. E vou vivendo das meias-mentiras que disfarçam sorrisos fáceis, do triste passar do tempo, do som sem cor... E vou morrendo aos poucos sem saber que a vida vive a meu lado, soltando gritos desesperados num vazio que ousei um dia construir.
Tenho o olhar cansado de tantas imagens que o preenchem, imagens do ontem e do hoje que perseguem o meu dia atordoado, presa a tanta coisa que não me prende, infinitamente enclausurada na memória de dias que já não vivo mais.
Paro de escrever e escondo o olhar na escuridão de um silêncio que quero, hoje, mais do que tudo, escutar com alma...

Joana Salvador





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