Tuesday, July 26, 2005

Eterno regresso a casa

O cabelo revolto perdido pela face, as mãos esvoaçantes, os passos largos pela areia humilhada. A baixa temperatura de um magnificente pôr-do-sol. Os pés descalços que recolhem das algas segredos enregelam secos, parados, inconscientes. Na mágoa de uma recordação, um beijo salgado, trocado ali mesmo, naquele pequeno buraco de espaço, onde foram sussurradas as palavras fé, esperança, amor. Vinham simplesmente em ondas de uma ternura regular, cuja espuma luminosa acendia as velas da alma. Hoje uma onda impaciente fere aquele corpo e repugna aquela presença. No seu olhar límpido permanece, porém, a imagem daquele beijo. Focos de luz intensos. Depois é o sol que se esconde. O mar violento que grita. Uma fotografia que se afoga no frio da noite. O cabelo revolto amacia as lágrimas que sangram. As mãos desistem de querer voar. Os passos são agora inversos. De costas para o mar aproveita o sopro de vida que vem do lado de lá da realidade. E naquele momento breve feito imenso tempo é conduzida por sentimentos imateriais, solitários mas fortalecidos. Curva-se e agarra trémula a imagem que trazia consigo. Guarda-a no lugar reservado às coisas mágicas. E se tempo houver contar-lhe-á…

1 comment:

Anonymous said...

«Curva-se e agarra trémula a imagem que trazia consigo. Guarda-a no lugar reservado às coisas mágicas.»

:)