Tuesday, July 05, 2005

Há uma força qualquer que quase me rasga ao meio, que me atira para o fundo, que não me deixa emergir e expirar demoradamente. Tento perceber o que me agarra os pés e não me deixa ver a claridade da manhã que já deve ter surgido no horizonte. Olho para baixo e uma névoa embriaga a minha visão que é agora distorcida e afunilada. A razão desiste pouco a pouco de lutar contra a falta de oxigénio deste interior de um nada que amedronta os meus movimentos circulares. Há uma qualquer energia que solidifica os pingos de sentimento do meu coração e me insensibiliza de tal modo que só o negro do vazio estremece enregelado junto ao meu desalento. Há uma dor hemorrágica que não falece. Que vagarosamente serpenteia no interior do meu corpo. O dia acontece e sou obrigada a esconder o sangue que me escorre pelas vísceras com o recurso a um qualquer paliativo concedido pela necessidade imposta de não chorar jamais. E ando, conturbada pelo resignado penar dos meus dias. E não choro porque mais vale aparentar a força do que transparecer uma fraqueza que sempre nos trai porque é verdade. E arrasto o meu olhar por falsos sorrisos e abraços imperfeitos. Dou o nada que é tudo o que tenho para dar e espero que essa força desista de me fazer fraca e me deixe encarar o meu próprio insucesso, sozinha, na sombra vacilante do meu medo. Espero que essa dor, assassina dos sonhos que desenho timidamente em folhas brancas de papel, cesse a sua vocação aniquiladora da minha existência e que, um dia, me deixe emergir e respirar os átomos da liberdade…

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