Sunday, January 04, 2004

Espera inconstante

É estranho esperar por alguém. Mais estranho é quando sabemos que essa espera não significa mais do que um abraço no vazio. Se me perguntarem porque espero, dificilmente saberei responder... provavelmente mentirei, dizendo que acredito nas razões ocultas que se prendem à  inércia dos meus movimentos. Direi que acredito sem nunca ter acreditado. Mesmo assim, continuo sentada na esquina dos meus sentidos à  espera... talvez não espere nada, mas queira achar que sim, de modo a justificar este silêncio que me invade e que não me incomoda, esta solidão que já não me surpreende e esta tranquilidade que me apaixona. Alegremente, ignorando as vozes sábias de bons conselhos, desarmo as minhas mãos e vendo-me ao sabor da incerteza sem nunca pretender olhar para trás, sem nunca sentir remorsos por perder para sempre a oportunidade de regressar ao ponto em que me era possível lutar. No fundo, caminho nua, completamente despida de sentimentos, sem saber para onde ir. Às vezes acho que é por ti que espero, se bem que a tua imagem seja muitas vezes mera ondulação desfocada no meu pensamento. Se é por essa imagem, cujos recortes ní­tidos desconheço, que me aquieto então a minha espera é, como já disse, um abraço no vazio, porque é um vazio corrosivo que a tua presença ausente sempre me impõe. Outras vezes, acho que espero, não por ti, mas por mim, por sentir que os meus passos se arrastam, algumas vezes, meio perdidos, num rumo incerto, para o nada. E quando me sento, num desalento conformado, sem forças para ter força, finjo esperar por alguma coisa. Tento acalmar o desespero da minha resignação e procuro justificações... digo que espero por algo que não sei bem o que é ou então deposito as minhas desmotivações no que finjo não sentir por ti. A verdade é que provavelmente estarei somente à  espera de me encontrar de novo, de recuperar algumas certezas para conseguir electrificar o silêncio ensurdecedor que me rodeia e poder continuar a decifrar o que está ainda por vir...

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