Monday, January 05, 2004

O ser humano tem uma tendência natural para o egoísmo e por mais que nos recusemos a acreditar nisso, somos sempre forçados a admiti-lo. De todas as vezes que pensamos conseguir extravasar o nosso pequeno mundo, eis que um capricho até aí ainda não satisfeito nos faz recuar e voltar para a insensatez de uma realidade que só a nós pertence e que se torna cada vez mais efémera, inconstante à medida que os desejos insaciáveis se sucedem no tempo. Por diversas vezes questiono a contradição de o ser humano ser gregário e simultaneamente profundamente egoísta. Contudo, talvez nem seja uma contradição tão evidente quanto isso. Para tudo precisamos dos outros, mesmo quando se trate somente de alimentar preversamente os nossos únicos caprichos. Provavelmente o egoísmo congrega em si inevitavelmente uma carga intensa de necessidade de socializar, ainda que aparentemente isso encerre algum grau de contradição. Até podíamos ir mais longe neste raciocínio... pensemos nas relações amorosas entre as pessoas. Este é um campo em que a partilha, a dádiva incondicional e o amor encontra a máxima concretização. Mas se aprofundarmos a questão e a compararmos com o que acabou de ser dito, podemos facilmente descortinar que, mesmo neste campo, em que parece não haver espaço para o egoísmo, este sentimento nos derrota por completo. De facto, só partilhamos, só nos damos se isso implicar e enquanto durar a nossa própria felicidade... Damos para recebermos sempre. E quem, romanticamente, desacredite esta verdade está a contradizer aquilo que consubstancia a maior tentação para o ser humano, que é a de alimentar o seu próprio ego e a sua realidade pequena e insignificante. Há, felizmente, raras excepções, exemplos de coragem e de abnegação da própria felicidade, mas, como todas as excepções, estas servem também para demonstrar e confirmar a regra...

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