Tuesday, January 06, 2004

Há pouca coisa que não tenha sido já objecto de estudo e de reflexão. Criam-se ciências para os mais variados gostos e manias, valendo aqui a já histórica frase de Nelly Monserrat, a de que não se deve negar à  partida uma ciência desconhecida (certamente todos recordarão o anúncio televisivo, através do qual tal brilhante taróloga publicitava os seus excêntricos exoterismos!). A propósito disto, dei por mim a pensar nas pseudo-ciências que tentam estudar aquilo que será, muito provavelmente, inestudável... Dei por mim a enumerar as esgotadas tentativas de estudar a personalidade humana. De facto, escrevem-se teses sobre os mais diferenciados comportamentos humanos nos mais variados contextos sociais, descrevem-se situações-padrão... mas a verdade é que essas análises, sendo mais ou menos elaboradas, jamais esgotarão a variabilidade infinita dos meandros que contribuem para definir a personalidade de cada um de nós (se é que a personalidade pode ser definitivamente definida...tenho as minhas sérias dúvidas...). Estaremos aqui no campo do infinito e neste campo não se joga com possibilidades esgotáveis. Mas, dizia, dei por mim a reunir algumas dessas auto-denominadas ciências que julgam conseguir definir a personalidade humana. Desde a quiromancia, que ousa descobrir-nos pelas linhas mais ou menos definidos das nossas mãos, até à astrologia, que define o nosso comportamento através de uma influência, que se quer omnipresente, dos astros, estamos perante um sem nunca acabar de tentativas (a que os mais cépticos renunciarão!) para que acreditemos em transcendências que nos influenciam e às quais jamais poderemos fugir. Temos tendência ou não para a depressão porque na nossa mão está desenhado uma linha de determinada forma. Somos alegres ou românticos simplesmente porque os astros que acompanharam o nosso nascimentos assim o determinam. Para além destas teorias simplistas, há uns tempos descobri outra maneira, não menos supreendente, de determinar a nossa personalidade: através da caligrafia. Bem, nesse campo, que me é particularmente caro, já que a minha letra não prima pela perfeição nem pela beleza gráfica, julgo não poder ser imparcial. No entanto, não poderia deixar de tentar inovar. Facilmente encontramos situações quotidianas susceptíveis de análises deste género. Imaginemos uma nova ciência: A Metrologia, que teria como objecto o estudo do comportamento humano através da forma como as pessoas se sentam no metro e como reagem às diferentes situações, desde a existência de numerosos lugares vagos, até à enchente habitual das horas de ponta. Certamente, estarão a achar este devaneio bastante rí­diculo (até eu...). Muito provavelmente não se afastarão muito da verdade. Mas, nunca se questionaram sobre estas coisas? Às vezes, não vos assolam pensamentos tão absurdos e impensáveis quanto este que vos acabo de descrever? Se sim, então a única diferença é que eu respondo a esses impulsos escrevendo, correndo o risco de os meus pouco leitores desisitirem de o ser. Mas, no fundo, esta foi talvez uma tentativa de tentar fugir à  abstracção que me caracteriza e de querer mostrar alguma versatilidade. No entanto, bem sei que esta justificação pouco abonará a desfavor da insensatez absurda que invade as palavras que tenho escritas. Correrei esse risco...

No comments: